Fragmentos

..o que não deve ser esquecido.

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20131123

Demônios Familiares - 1

Falsidade e seu leque de sorrisos amarelos, seus olhos verdes como a Inveja


Era uma reunião de família, parecia reveillon. Todo mundo arrumado, sorrisos fáceis, gente bonita.
-Ora, mas quem diria...! Queriiiidaa...!
- Que é isso, Falsidade, como assim, não me reconheceu? - a outra, de nariz afilado, perguntou.
- Nossa, Vaidade, está cada dia mais bonita, por isso não te reconheci...! - Falsidade abre seu melhor sorriso amarelo. - E essa pequenina, quem éé?
- É minha filha linda, inteligente, the best: conheça Arrogância. Eu sei que ela é liiinda, pode falar que ela é tudo, eu sei disso.
- A opinião dela não importa pra mim, mamãe. - a menina, com um rosto lindo e uma roupa impecável de grife, com o mesmo nariz afilado [e empinado] da mãe, virou o rosto enquanto respondia.
-Vocês duas estão cada vez mais parecidas com o Vô Ego. Também, humpf, são as queridinhas dele....
- Boa noite pra você também, Inveja. - Falsidade tentou amenizar - Liindo seu vestido verde, amei.
- Ai, pois eu preferia ter um igual ao seu. - a loura-esverdeada respondeu.
- Não se enganem, todos sabem que eu sou a mais bonita, o meu vestido foi o mais caro. - Vaidade falou mais alto.
- E é claro que eu não poderia  estar menos impecável e linda, sou melhor que todas as meninas por aqui, e não preciso de ninguém. - a pequena, mas notável garota respondeu.
-Mas cadê seu marido, Vaidade? Ah, eu com um homem daquele...
- Sossega, Inveja. Orgulho está ali tomando um Blue Label com o Vô Ego. Tire o olho gordo, ele não é pro seu bico, meu marido é o melhor homem do mundo!
- Está mais do que evidente que meu pai e minha mãe foram feitos um para o outro! Porque você não se enxerga, Tia Inveja?
- Que garotinha mais mal-educada!! Ah, se eu tivesse sua idade, se eu fosse sua mãe....! Olha ali, o meu filho... Desdém, venha cá, meu querido.
- Que ééé, mãããee... - o menino, muito pálido, respondeu sem muito ânimo.
- Essa é sua priminha, Arrogância. Por que vocês não vão brincar juntos?
- Como se eu quisesse brincar com esse/essa aí! - as duas crianças responderam em uníssono. - Não preciso desse/dessa aí pra me divertir. - mais uma vez, e sem planejamento, falaram em uníssono.
-Mas eu sempre achei que vocês brincassem juntos, olha que bonitinho, parecem até irmãozinhos, que gracinha... - Falsidade sempre arrebatadora ao contornar conflitos de família.
- Eu só brinco com Desdém se a Covardia vier junto.  - retrucou Arrogância. Sobre essa outra priminha, uma menina que se mostrava valente, mas na verdade tem medo de tudo. Sempre se vale da Arrogância, a fim de que esta a protegesse quando se metesse em encrenca. A Covardia arruma os problemas, mas sempre se esconde atrás da Arrogância para que os outros não percebessem seus terríveis defeitos. Covardia é uma das filhas da Insegurança; não se sabe se é bastarda do Orgulho ou do Egoísmo, isso não se discute na mesa do jantar daquela família. Como nunca se soube de toda a verdade, é possível imaginar a relação conturbada entre Vaidade e Insegurança. Antes, costumavam ser aliadas. A Vaidade sempre encobria os atos de Insegurança. Até a Covardia nascer, é claro. É uma relação tão íntima e ao mesmo tempo tão frágil, é tão fácil ficar entre as duas irmãs, mas de fato é dificílimo separá-las.  E talvez por se sentirem como irmãs que Covardia e Arrogância quase sempre andam juntinhas.
Insegurança, no entanto, é o oposto da filha em alguns aspectos: ela se demonstra muito frágil e carente, mas na verdade quer é foder com a vida de todo mundo. Isso porque, nos seus momentos de crise, a Inveja sempre aparece para cutucá-la, cochichar ao seu ouvido. Insegurança e Inveja nunca deixaram de ser amigas, é claro, embora seja difícil definir até onde isso é uma relação de verdade. 

[...continua]

{esse conto começou a ser escrito no dia 23 de Maio de 2011, às 09:34 da manhã -sim, esta data, um certo aniversário de alguém que certamente me inspirou a escrever isto. E somente hoje fui publicá-lo. É possível que o Necrotério de Compêndios tenha mais cadáveres que valas, restos mortais nas gavetas de aço escovado, que agora virão à tona com uma boa camada de base mary kay específica para defuntos..}

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