Fragmentos

..o que não deve ser esquecido.

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20141211

Quaresmeira

I
vamos sobreviver à inundação, meu irmão
Se fosse o bastante termos medos parecidos
E nesses termos temos prosseguido
Há um receio da sombra no coração ou ego ferido
Se fosse o bastante sermos fragmentados de maneira similar, a imaginação extravagante à alimentar a paranóia constante que por um instante se torna pânico expresso no olhar.

Se fosse o bastante nosso pavor de gente comum, essa vontade de se transportar pra lugar nenhum.
Se fosse o bastante nossa busca similar por algo que faça sentido nesse mundo inimigo que insiste em tentar nos expulsar. Se fosse o bastante nosso gosto excêntrico, esse medo do Tempo, e ao mesmo tempo fascinação. Essa inevitável auto-destruição; compartilhando os mesmos vícios, os mesmos discos pró-depressão. Se fosse o suicídio menos que um plano em fase de execução.
 Como eu queria uma companhia assim pra afastar a temida solidão!

Mas não bastam minhas falhas, minha teimosia não tem solução.

Sigo sem pressa, apreciando a nossa conversa, que não será em vão. Sigo sem pressa, contágio mortal pelo aperto de mão. Sem medo e sem pressa, a nossa conversa interrompida por uma confusão. O mundo real que não nos pertence se torna um jardim de opressão.
Se fosse o bastante nossa falta de contato, evitando a multidão, desconhecidos numa procissão.

Eu vou criando mundos e você cria pessoas que cabem nesses mundos.
E de repente nós já não parecemos mais tão sós.
Você cria mundos e os sons mais profundos nas quatro cordas da sua voz.
E eu escuto, mesmo estando mudo, parecendo tudo confuso, esquecendo  onde você mora - debaixo das luzes, do teto, da fumaça, você me abraça quase que de repente. O que acontece com a gente agora?

Quarentena. 
Isolados do amargo lá fora, com nosso amargo aqui dentro. Você com o seu, eu com o meu, como o seu, inoportuno, espírito noturno, escapando da salmoura feito um gatuno.
Se fosse o bastante estar dentro desse mundo..

Quarentena, aguardando sem pressa, sua resposta na nossa conversa virtual. Uma música por dia, um filme ou poesia, um quadrinho, um livro, um game, uma bebida. 
Se fosse o bastante, eu já estaria, em quarentena.
Contágio, no aguardo do seu contato, sem pressa, apenas.


Apenas florescerá a quaresmeira totalmente fora de estação.




20141005

Quatervois

{Backup do que ninguém vai ler}extraído do tumblr


Regostar, quem diria…? Tão previsível como a noite ao final do dia. Eu não poderia ser mais clara sobre o que sinto. Sinto- me idiota, um suicídio lento é a estrada que me leva até a uma sombra de você. Quantos anos esperando, quantas vezes te chamando, quantas noites mais chorando, querendo uma simples resposta! Gosta ou não gosta? O que você quer fazer, infernos? Brincando com meu desejo, cozinhando-me em anseios, me deteriorando em ilusão? Essa insalubre paixão que se desenvolve no meu peito, platônico amor sem jeito, disforme e crescente, paixão unilateral. Eu quero, quanto mais essa verdade massageia seu ego, mais distante me deixa, congelada no tempo, desejando aquele momento onde tão ardentemente nos beijamos. Pra você não significa nada? Essa emoção em hora errada, seu reaparecer tão oportuno, um abraço sob o céu noturno, reescrevendo meu pôr-do-sol. Eu desejo estar dentro do seu abraço, quero seus braços me envolvendo e me apertando, suas unhas me arranhando, seus dentes marcando minha pele. Quero paixão, quero romance, quero companhia. Quero ser-te importante. Ver e mergulhar no doce brilho do seu olhar e desenvolver em ti, os sentimentos que novamente surgem em mim. Parte doce e amarga do meu passado, amor marcante, queria apenas encontrá-lo nesse exato instante.


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20140811

Devaneios de Amorexia I - Ossos Brancos

"Eu conheço você de algum outro lugar? Por que sempre me abandona, querendo mais?"

E aquela mania dele, cruel, de aparecer nos sonhos dela?
Inconforme.
Descumprimento, desleal.
Responsabilidade desequilibrada.

Kathy Core estava no velho empório, como quem procurava um vinho em especial.
Desceu a escada em espiral para a adega e esperou. Olhou no telefone. Esperou.
Kevin entrou no empório, com sua reconhecível jaqueta marrom. Lhe caía bem, por alguma razão, apesar de quase fundir em sua pele cor de canela.
Ele foi para o fundo da loja, olhou pela janela e esperou.
Tirou um bilhete todo amassado do bolso, algo escrito com caneta nanquim com uma caligrafia feia de doer: a letra rabiscada de Kathy. Por que ele ainda tomava aquele pedaço de papel? Olhou para fora e esperou. 

Era tarde, depois daquela metade de tarde, onde todo plano começa a morrer. 
Na mochila, coisas de piquenique. Faltava pois, só o vinho. Desceu a escada espiral para a adega, enfim, ficando cada vez mais escuro, Encontrou Kathy de costas, seus cabelos fundindo com a penumbra carmim das garrafas de vinho.
"Kevin" - ela sussurrou - "Você veio, enfim."
"Eu precisava te encontrar. Vire um pouco seu rosto, dê um sorriso pra mim". - ele falou, baixo e rapidamente para que ela não pudesse mesmo entender.
"Você tem cheiro de cigarros"- ela não se virou.
Ele não respondeu, mas pensou "é aquele que você gostava".
Ela se virou, e abraçou-o, aspirando sue perfume, acreditando que seria a última vez. Mas todas as outras vezes foram as últimas, mas todo momento é perto do fim. A qualquer momento pode ser o fim, e adeus.
Ele se deixou ser abraçado, e a abraçou de volta, também aspirando o perfume dos cabelos dela, como fez da primeira vez, pois depois de tantos "fins", sempre parecia ser a primeira vez. A qualquer momento poderia ser o fim definitivo, e adeus.

Seus olhos se cruzaram e ela pensou em beijá-lo, mas logo essa imagem foi substituída por um alerta mental: "se eu fizer isso, vai acabar".
Subiram as escadas com os dedos semi-entrelaçados, mas antes que pudessem deixar o empório, avistaram um conhecido, o Professor, do outro lado da rua, e tornaram a se esconder atrás da prateleira. Kevin soltou-se e em dois minutos saiu e atravessou; parou o professor e contou algo em tom de urgência. Kathy nada ouvia, mas percebeu que eles discutiam, sem alterar o tom de voz.  Por fim Kevin voltou pra dentro, fez um gesto de silêncio, e dois minutos depois eles saíram, separados, como se tivessem se encontrado por acaso.
Kevin acendeu um cigarro, Kathy pediu um único trago, ele lhe entregou o maço e a ofereceu. Ela disse que não havia necessidade, se era pra evitar contágio, que ela ficava longe. Ele pegou o próprio cigarro e segurou para que ela pudesse tragar. Uma, duas. Depois disso, ela mascou um chiclete.
Caminharam para o parque em absoluto silêncio, lado a lado, mas sem nunca se tocarem. O que fora aquele lapso, onde seus dedos se entrelaçaram por um momento? Ás vezes o rosto dele se ocultava na fumaça. Assim eram os sentimentos dela por ele, naquele momento.

Chegaram ao parque e escolheram aquela mesma árvore mais oculta, de outrora, para fazerem o piquenique, da mesma maneira. Ali seria difícil vê-los, sob a sombra das árvores, onde parecia ser mais verde e azul e escuro, do que nas outras áreas do parque. Ainda assim era possível ver o céu. Um pedaço de promessa por entre as nuvens cinzentas.
Não tinha nada de mais, a toalha de piquenique era a mesma da outra ocasião, tinha um pacote de doritos, dois pedaços de bolo e o vinho que ela comprara. Kevin se sentou encostando na árvore e fez com que Kathy se sentasse entre as pernas dele, recostado em seu peito. Parecia que nada havia mudado. O vinho foi servido em copos diferentes. O silêncio permanecia inquebrável. Parecia mais uma cerimônia do chá, todo o diálogo se dava através de gestos e olhares, toques sutis. Ela segurava a mão de Kevin como se pedisse desesperadamente para que ele ficasse. Ele a abraçava como se esperasse desesperadamente que ela compreendesse. "Não desapareça. Não desapareça..."

"Última vez, né..?" - ela finalmente quebrou o silêncio, quando o vinho acabou, já com uma voz meio chorosa.
Kevin não respondeu, apenas a abraçou para si, mais forte, de maneira que só o silêncio das árvores que testemunharam o que aqueles corações gritavam, poderia selar. Ele a abraçou como da última vez. Ele a abraçou acreditando que seria pela última vez.
Ele acariciou os cabelos dela, e Kathy virou-se de frente. Eles deveriam se beijar? O dia ficara tão nublado, e então começou a chover. Ele pegou a toalha e jogou sobre a cabeça de ambos, como uma espécie  de tenda.
"Preciso te contar um segredo, Kathy. Mas aqui, eu não consigo. Agora eu não posso. Precisamos nos encontrar, fora daqui, e eu te conto."
"Kevin..?" - Como outrora, ela se pegava olhando pra ele, sem entender coisa alguma. 
Ele segurou o rosto dela com as duas mãos, e ela segurou-lhe pelos pulsos. Não sabia se deveria impedi-lo ou encorajá-lo.

Ele fechou os olhos e chorou, baixo, envergonhado, como quem reprimiu aquele choro à algum tempo. Então Kevin finalmente falou:
"Vou enterrar você. Eu vou te enterrar viva, para que você não desapareça. Eu sei que isso é doentio, mas eu preciso fazer isso. Vou te ver todos os dias, e você nunca vai desaparecer. E aí quando eu puder, eu te conto o segredo. Eu prometo, que vou te ver todos os dias..."

Kathy sentiu um pavor tremendo, e ao mesmo tempo, que sua devoção estava sendo testada. Kevin iria enterrá-la viva, para que ele pudesse vê-la todos os dias. Mas por que, por quê ela aceitaria algo doentio assim? Ele tornou a ficar em silêncio e muito sério e engolia suas lágrimas. Ela tentava enxugar suas lágrimas, mas ele desviava o rosto.
"Não enxuguei nenhuma das suas lágrimas" - ele disse, rispidamente.
Eles saíram de onde estavam pois a chuva intensificou-se, e se esconderam atrás do almoxarifado do parque. 

O telefone dele toca, é ela: Deirdret. Ele atende, mudando a voz: "Oi, amor."
Kathy desvia o olhar. Depois daquilo, ia querer um cigarro inteiro com certeza. A chuva não para de aumentar, e ela agradece por estar abafando o som. Ela se deixa dissolver naquele som. Kevin a enterraria onde? Debaixo daquela chuva? Antes ou depois de se encontrar com Deirdret? Que patético. Ninguém ali consegue se decidir.

Então Kathy se lembra de um sonho que teve: Frank enterrava Alice morta debaixo de sua cama, e o espírito da garota assombrava o cara-coelho todas as noites. Ele se deixava ser assombrado, apesar do sofrimento e horror, porque amava Alice demais para deixar que o corpo dela perecesse no cemitério. Sádico, Frank. Sua percepção de amor é doentia.~*

O telefone foi de fato desligado. Kevin se voltou para Kathy, pediu desculpas em voz baixa e ofereceu um cigarro. Ela recusou. Ele acendeu. Ficaram sem se olhar e em silêncio até que o cigarro dele acabou. Antes que ele pudesse jogar a guimba no chão, Kathy adiantou-se segurando o braço dele. Depois segurou o outro. Ele tirou os braços e a olhava fixamente, com medo do que ela pudesse fazer. Kathy entrelaçou os dedos nos cabelos dele, fazendo-o fechar os olhos de deleite. Depois beijou-lhe a testa, e, na chuva, partiu.

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Dias depois, Kevin acorda abraçado à uma ossada de garota, ossos muito brancos e limpos, e chorando como se fosse o primeiro adeus definitivo.

20140629

Sintoma de Distúrbio Emocional

me exorcize, me ressuscite
se no meu túmulo você não orar
volto à noite pra te assombrar
sou seu fantasma, particular
eu guardo segredos, eu escondo mentiras
posso estar em qualquer lugar
invisível, você não pode me tocar
intangível, eu já não existo mais
no seu mundo, mas no fundo


eu sempre estarei lá

texto escrito originalmente em Abril/2014
desenho de Junho/2014

Amorexia [cont.] - Ribs and Bones

Não há nada mais doloroso do que simplesmente não existir mais no mundo de alguém que ama.

É até difícil te explicar
Certos amores vem e vão 
Muitos vêm em vão
Alguns são feitos pra durar
Mas a maioria, não
Poucos darão muito certo
Muitos apenas irão machucar

E e acho que o nosso está, no segundo grupo
Amor eu sinto muito



texto-carta e poema escritos originalmente em Março/2014

AUSNCIA TUA


Princípio da Amorexia Nervosa

Disse que estava pronto quando chegou, mas nunca perguntou se eu estava quando foi embora.


Já há algum tempo que eu venho percebendo, aos poucos você mudando.
Sombrio e taciturno como eu nunca o vira, em seus olhos a faísca sonhadora parecia ter desaparecido por alguns momentos.
Silêncio congelante.
Sua ausência nos pedaços de mim que são seus, agora entorpecidos abaixo de zero.
Por escrito, dissera-me enfim que queria um tempo para pensar,
avaliar,
por em ordem.
Recriar à sua maneira, quando estivesse adequado,
me desanestesiaria.
Seu bilhete embolado com cigarros pretos e desenhos e camisinhas. Engulo seu bilhete embolado com chocolate amargo.
Eu o senti se afastar, e meneando a cabeça, você negava.
Em cada silêncio precedido de um "nada não", eu tive medo.
Consciente, meu poder em suas mãos.
Engula esse poder mas não se esqueça dos fragmentos do meu afeto, com o dissabor da ansiedade e do desespero e sobretudo da saudade.
Saboreie meus pedaços que te pertencem, como prato preparado por capricho.
Fúria e melancolia, flamejante estrela que brilha e gira. Lágrima de uma tonelada no meu rosto, nos seus olhos, expressão fria. Abraço solto, beijo breve, aperto de mão, não me atrapalhe.
Dou-lhe seu tempo, essa coisa de amor fode com tudo. Dou-lhe seu espaço, suas ausências deixam buracos e eu me desmonto em memórias. Perdão que só eu que peço, atrapalhadamente, desviando seu olhar severo.
Eu só espero que encontre o que busca. Estarei bem aqui. Ou pelo menos, metade de mim.



texto originalmente escrito em: março/2014
E agora, o que eu faço com essa porcaria de coração quebrado? Tantos meses se passaram e às vezes eu sinto que isso não mudou. Eu gostaria de sentir por você, agora, o que você demonstra sentir por mim: INDIFERENÇA.

Carta Oculta - Expurgo Amoréxico

Por muito tempo, não soube o que dizer. O medo da rejeição iminente me impedia de realizar meu verdadeiro desejo. Quando o fiz, isso só o levou para mais e mais longe. 
Desabafo
para L.

Essas coisas não vão para uma carta, é mesmo pouco provável que você leia um dia. Mas vamos considerar como uma carta que jamais será entregue, mas que serve de transbordo das minhas emoções desde o dia em que conversamos.
Vou gaurdar meu sentimento dentro de mim. Num lugar repleto de coisas boas. E as memórias estão gravadas no meu coração.
Poxa, eu quero te ver de novo. Aquele abraço, aquela carícia e aquele beijo, pra você podem ter sido coisas normais, para mim foram um tesouro. Não, isso não reacendeu nenhuma faísca boba que naquele momento você voltaria atrás. É só porque foi um ato pontual de carinho no momento certo, o momento em que eu mais precisava.
Eu quero sorrir e não chorar quando pensar em você, quando me lembrar de você. 
Sua atitude de zelo, para me proteger do sofrimento ao se afastar de mim.. bem, não deu muito certo, mas hoje em dia eu compreendo melhor.
Ainda me sinto estranha, tremo só de ouvir a sua voz. Tímida, não consigo te encarar, pois tudo o que quero fazer é te abraçar. Eu me seguro pra não parecer que quero invadir você. Mas com esse abraço eu curaria essa ferida muito mais rápido do que estando afastada. Não vale nada, a minha razão, porque perto de você sou inundada pela emoção. Longe, eu invento mentiras pra mim, que não te quero mais, que eu quisera o fim. Tudo mentira, o que eu queria mesmo era uma chance de consertar tudo, ou melhor, fazer o novo onde não puder ser consertado. Mas tentar de novo, mais intensamente, talvez, com ainda menos cobrança e mais amizade.
Toda paz e felicidade que te desejo é tão real, eu me contentaria em ver seu sorriso mesmo de longe, e tenha certeza, eu vou estar sempre torcendo por você. Sucesso com seus sonhos, tô torcendo pela sua felicidade plena, tranquilidade e vida sempre à renovar. Claro, existirão adversidades e momentos difíceis, mas não recue, não desista, seja forte, você supera. Eu amo como você venceu na sua vida tão difícil, de maneira quase que milagrosa, você é um garoto raro, um milagre mesmo. Por saber do seu imenso valor que eu tolerei e toleraria muito mais os seus defeitos, o seu mau-humor e indisposição com certas coisas, ou em certos momentos. Faria o que pudesse ser feito para que você não desistisse. Você nunca foi meu, é claro, mas eu era muito sua. Você não era minha propriedade, mas era parte importante da minha vida, contaminou positivamente minha essência - juntamente com o A., lembre-se. Porque ninguém mais poderia ver ou sentir o que eu estava vivendo, como esperar que os outros compreendessem? Tão harmônica a forma como vocês se complementavam, contrastando, e me completavam... me sentia absolutamente feliz. Não mudaria nada, talvez, só gostaria de ter tido mais tempo..e menos ingenuidade ao tentar lidar com vocês dois ao mesmo tempo. Meu mundo foi mais colorido durante aquele ano, e com isso eu conseguia eventualmente, colorir também a vida das pessoas ao meu redor. Sempre surgirão problemas, mas eu conseguia encará-los de maneira até bem otimista - contava com vocês ao meu lado, como pedi durante a virada de ano. ó céus, eu tenho que me conformar. Você tomou sua decisão e eu nem tentei prendê-lo, seria em vão, totalmente em vão. Sua vontade é soberana em sua vida, e sabe, só desejo que sejas mais feliz. Estou delirando contigo, por favor, não te afastes nem me apagues do seu coração. Por favor, não me odeie, não me despreze, porque te amo demais, e te desejo demais. Sabe o quanto eu me segurei na sensatez, a cada momento, quase cortando fora minhas mãos para não tocar as suas sem seu consentimento e despertar uma fúria repentina. Que sua única fúria seja paixão, como no amor que fazíamos e sua paixão me deixava arrebata.. No mais suave dos carinhos à mais violenta das investidas. Isso é  um delírio, mil perdões, mas preciso desabafar, nem que seja para um espelho invisível, ou para a imagem de ti que guardo na memória. Espero que seja logo que a ferida se feche, queria poder ser ao menos sua amiga, encontrar-te eventualmente, fazer alguma coisa divertida..Não me apague do seu mundo, por favor..Pois você existirá pra sempre no meu - parece muito tempo, mas isso só depende de quanto eu viver. Não importa quão longe nós fomos, eu mal espero pra ver o amanhã. O que seremos à partir de agora? Você encontrará sua paz e eu encontrarei a minha? Eu cultivo ingenuamente esse sonho de te encontrar de novo um dia? Enquanto estivermos sob o mesmo céu que testemunhou nossos beijos, sob as mesmas estrelas que ouviram nossas confidências e sob a mesma lua que abençoou o nosso amor enquanto durou, acho que sim, nós nos encontraremos. 

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escrito originalmente em: 06/05/2014

Amorexia Nervosa II - Quadro Limítrofe


Garota-Leviatã: inanição autocanibal


As horas que não passam
As mentiras que eu me habituei a me contar
Pra prender os gritos e as lágrimas
Dentro de mim, no fundo do mar

As horas que não passam, e esse mês que não acaba
Logo que começo a sorrir, vem o pássaro abrir suas asas
Seu canto não me alcança, como o meu não o alcançará
Destinos trilhados opostos, mas em estradas tão próximas
Laços desfeitos - à força pra moça, são rotina certa do rapaz
Amores perfeitos que não duram mais que quatro estações
Passam arrastam na vida marcas e devastam corações
Achava que era pra sempre mesmo sabendo que o eterno é breve
Queria prender a essência etérea de cada momento que perece
Crera em cada palavra mensagem riso promessa que não se esquece
Mesmo no abraço do adeus, o choro se tornou uma copiosa prece...

As horas passam, e tanto tempo já se passou
À duras penas, quatro meses o sentimento congelou
Sem contato e sem pistas, memórias na neblina
Tão duro seu olhar ao me abandonar na porta
Tanta falta de tato, só queria que me abraçasse de volta
Quantas perguntas que ficaram sem resposta
E tantas outras que ficaram na cabeça,
Tantas coisas não ditas e perguntas nunca feitas

Toda raiva e rancor que em obsessão transforma o amor
Toda tristeza que confesso escondo triste sorriso olhar disperso
Ás vezes confesso, bisbilhoto suas linhas sob outras máscaras
Seus amigos me sabotam, ela me debocha e você escancara
Te vejo feliz vivendo com outra, e tudo que disse que nunca faria
Minhas madrugadas insones de choro enquanto você se divertia
Sua deslealdade no fim fez-me cega de mim, espezinha quem te defendia

As horas passam lentas, em passos de cortejo funeral
Até hoje não sei o que pensa e o que sente, se acabou seu carnaval
Se fui só um momento, uma fase, seu passatempo
Para mim foi verdade enquanto durou

[texto-carta escrito originalmente em: 05/05/2014]
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comportamento obssessivo-compulsivo, presente. transtorno desassociativo: moderado. paranóia: moderada.



20140628

Suspeita de carcinoma psicossomático

Naquele dia eu podia jurar, seria pra sempre. Mas o "para sempre" não existe, e você me ensinou como é sem ele.

Para L., que jamais lerá, mas fica aqui meu desabafo.

Paradoxo do Bueiro. Para quem sente saudades, tudo vira um elo de memória, tudo vira desculpa para lembranças. Romantismo tolo, construindo uma ponte de lágrimas, transformando cada despertar em estorvo, tornando tóxica cada tomada de fôlego, cada passo num saltear sobre cacos de vidro.
Estive na praça, que fora testemunha do nosso amor de outrora, vinham as moças e as senhoras à passear com seus cachorros - roliços, pelancudos, bochechudos e com olhar tristonho; você sabe a raça, é seu apelido.
Eu me sinto tão infinitamente tola, alimentando pensamentos em vão decorados com recortes de fotogramas de você. Aquela cena em stand-still, onde nós choramos alto, abraçados, entregues a uma transbordante emoção depois do melhor sexo de nossas vidas. Até hoje isso não tem explicação, mas será que o meu cheiro já saiu da sua cama, onde hoje deita uma outra dama?

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"Será que eu cair na sua casa, cê me ama e cê me adora? Se eu cair na sua casa você não me deixa dormir."
Maldita [é claro] - Michael Caine

Ô bomba, aquela paixão - paixão segundo a revista, é cocaína. Eu quero saber qual é a emoção que se traduz em Ritalina. Não durmo, nem crio, depois fico sonolenta. Caindo de sono, caindo em mim, alimentando mentiras sinceras sobre como você se sente. Mente pra ela ou mente pra mim? Mente aberta ou mente ruim? Drogas: muito ou pouco? Seu paraíso num quadradinho: de ácido, de papel, de tela. Meu paraíso continua sendo antes de despertar, perdido, ao menos eu faço o que quero. Faço a dieta da ruindade, me entupindo de "nãos", abstinências e personalidade evitante. Pega a cartela de aspirina que eu deixei pra você e enfia no sul.


texto-bilhete escrito originalmente em Maio/2014





Ciúme sofro não nego, me corto enquanto puder.
A gente vai ficar juntos por muito tempo nega. A gente fAz as coisas juntos sem desespero