Fragmentos

..o que não deve ser esquecido.

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20130722

Confessionário de Pecados Relativos I

Eu poderia começar falando dos olhos, mas como isso seria clichê, vou falar de quando vi você atravessando, com ares de intocável, o pátio acadêmico.
Agora você atravessa a linha imaginária do que não é minha propriedade, mas faz parte de mim. Talvez não faça ideia, não ainda, eu não sei quão fundo você pode tocar, ou quão longe seus olhinhos enxergam.
Há uns dissabores que somente eu sinto embaixo da língua, logo ali onde pulsa o incômodo quando se está prestes a desfalecer. Sempre há sal nos seus bolsos, e eu não faço ideia quantas vezes eu morreria em silêncio antes que pudesse perceber - que eu quero que a linha desapareça, mas tenho medo que isso
signifique abandonar meu bote no porto seguro e afundar no cais, dissolvendo no sal do mar que mais cedo ou mais tarde, voltaria para os seus bolsos.
Onde você está que não se aproxima? Não de mim, fica esta distância, e eu me sinto cada vez mais traída - como se não pertencesse mais.
Mesmo quando eu voltei, lá estava você. E agora em cada palavra embolada, sorrisos soltos, perfumes antes de sair, está você também.
Nunca esteve fisicamente no quarto dele, mas posso te sentir em cada canto - cantos que eram meus, tinham minha essência, na cama em que durmo enquanto ele fala com você coisas que eu não terei jamais permissão pra saber.
E cada vez que eu sinto o amargo do meu fel preenchendo de negro como nanquim onde deveria estar meu sorriso, eu engulo a bílis, amarga, e amargo sozinha para não manchar o doce daquele que amo. Para não contaminá-lo  - cuidado que talvez ele mesmo não tenha tomado nos recomeços.
Minha ameaça são seus lábios vermelhos, cabelos cor de cobre tão perfeitos, maquiagem sem defeitos de uma boneca sem trejeitos. Tudo que a cerca, tudo aquilo que você toca, adormece. Eu nem a conheço, mas você me daria uma chance?
Você se parece com o que eu gostaria de parecer, tem as coisas que eu gostaria de ter, mas não quero sair da minha pele-concha, eu fui feita dessa maneira rústica, e é por isso que tenho medo de perde-lo em seu bom gosto e sofisticação.
"Não há substituição" - eu repito esse mantra, mas em minha mente me corto 158 vezes cada vez que, mesmo comigo, a atenção dele é pra você.
Eu poderia devorar você, para tentar me tornar aquilo que queria ter sido. Mas eu sorrio, tento entender como se move - algum dia você viria me recuperar nas pedras do porto, ou eu preciso ser sal para um dia estar embaixo da sua língua?
Shrimp.

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