Já faz uma semana desde o último contato físico que tivemos.
Cataloguei os seus cheiros, relacionei as suas cores, a seriedade branda na sua voz sibilada.
Era um jogo que fazíamos em segredo, escondendo nas escadarias como crianças que comem um doce escondido. Fazendo barulho nas escadarias, olhares incapazes de guardar um segredo. Indecente, como meus gemidos que você ajudou a abafar, entre mordidas.
Nós fugimos então, para o território onde poderiam ser aceitas nossas obscenidades como bênçãos que deveriam ser gritadas e arranhadas embaixo das nossas peles.
Tão rapidamente envolvidos, na graça, nas histórias, nos cabelos.. mãos entrelaçadas e olhares cúmplices, seria mesmo apenas o calor dos nossos corpos, nosso sangue mais quente que o sol?
Seus olhos rasgados de animal selvagem, devorando cada parte do meu corpo nu, que você mesmo despiu, você mesmo vestiu - com uma destreza incondizente com sua dita inexperiência, conduzia como uma valsa a conjunção carnal, tão carnal e tão poética quanto uma pintura que ainda seca na escuridão de um estúdio.
E dei-lhe confiança, dei-lhe todo o caminho aberto pra você prosseguir, tão certo da liderança que é incapaz de notar o quanto eu o faço meu. Um encontro que parece premeditado, culminando num desejo imensurável, que nos açoita a carne, nos torna vulneráveis - e permite que as almas inflamadas se toquem, se abracem.
Então naquele momento eu pedi para que as luzes fossem apagadas, não queria que visse meu rosto de dor. Mas você o sentiu no meu cheiro, e ainda assim, o feitiço não foi desvelado, não. Já não tem mais volta, nem remédio.
Talvez eu já tenha visto esse filme antes, talvez eu não tenha conserto ou um pingo de vergonha na cara.
Tanta volúpia nos seus lábios, na sua carne, na sua pele cor de canela.. Sinto sua alma indomável como o fogo que o rege, livre como você o deseja, destemido, audacioso, como quem precisa costurar a própria sombra nos pés senão ela foge. Você diz que quer saber tudo, aprender tudo, como se quisesse me seguir.. Quão fundo você quer vir em mim, sem começar a enlouquecer, se perder? E eu, não quero também me atirar no que lhe é mais profundo, você que é águas agitadas como o mar? Quase posso ver, eu prevejo a lua ruim e a tempestade em seus olhos, mas com tanta brandura... no fim de tudo quase posso ter certeza, você vai tornar a me desnudar para depois me vestir enquanto eu dissolvo meu desejo em palavras.
[enquanto eu puder me prender à razão, meu anjo, me mantenha nessa gaiola, pelo amor do seu deus.]
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