Fragmentos

..o que não deve ser esquecido.

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20101014



Tudo muito escuro e úmido, nesse túnel.
Abandonado há algum tempo, num lugar de difícil acesso, um pequeno túnel, a entrada duma gruta natural, íngreme.
Poucos se aventuraram, querem saber se há ouro lá. Eu ouvi dizer que no fundo, voê consegue
encontrar talvez até diamantes, depois de se livrar da barrela.
Hoje o dia está muito quente, e os trilhos precários, enferrujados.
O metal zumbindo, dilatando, o vermelho do minério escorrendo entre as fendas das pedras.
Local proibido, com um aviso, só atiça a curiosidade desses jovens que somos nós.
Alguém já esteve aqui antes, mas desistiu. É uma beleza que as empresas de mineiração não
descobriram isso aqui, senão iam explorar até sobrar mais nada.
É preciso passar um óleo nas roldaninhas do vagonete, mesmo não podendo ir até muito no fundo
com ele, e nem dá pra saber se o trilho vai aguentar. Melhor explorar devagar, um passo de cada
vez, às vezes, dar marcha ré, não acordar os morcegos. Lanterna aqui vale pouco ou nada.
Mas a sensação de aconchego vai aumentando, junto com o calor, o ar rarefeito, mas é possível
ver um pequeno filete de água surgindo nos sulcos ferrosos de pedra e barro. Podiam ser comparadas com as entranhas de uma serpente, mas de um jeito mais poético, mais eufêmico.
Dá vontade de voltar ás vezes, medo, medo de perder a saída. Mas não tem como, nessa gruta de mão-única.
Como um martelo no prego, nossa perseverança não se esgota, a curiosidade vai aumentando, a
sensação de que algo que está muito próximo, sem saber se é o que procuramos.
O medo, a curiosidade, o aconchego da natureza, o calor, o interior da Terra-mãe, e nós tivemos
coragem pra ir até o fim. E se tudo desabar? E se formos soterrados pela nossa própria curiosidade? Não, o túnel pode ser assim tão ingreme, de forma que, em certas partes, nos sentimos pressionados contra as paredes, num movimento de contração, que nos obriga a deslizar na horizontal, mas isso não há de nos matar, por mais que seja loucura.
É loucura! E essa loucura nos motiva, o perigo que nos intimida, nos excita!
O fluxo do pequeno córrego que avistamos quando adentramos vai aumentando, como que prometendo uma recompensa. O caminho está cada vez mais íngreme, e acreditamos que nossa jornada vai acabar em breve, talvez numa curva fechada que dê num tipo de precipício, talvez num paredão de minério de ferro.
Nossos corpos estão esfolados, o sangue das escoriações se misturando com o "soro" de minério
que se mistura no filete de água. Nascente?
Cada vez mais quente e mais escuro, contando agora só com a nossa intuição, prosseguimos, sem
covardia, deslizando no musgo, na água, quase sem respirar. O coração acelerado nos manda mover mais devagar. Mas parece que este coração vai saltar pra fora! Estou ofegante.
A supresa e a recompensa vêm juntas, como numa onda de sensações inexplicáveis, que misturam alegria e regojizo, alívio e susto.
Numa grande clareira, como numa piscina natural, a água invade e flui, livremente, podemos
respirar à vontade, suspirando com a beleza do tesouro encontrado. Mergulhados nessa sensação,
relaxamos, respirando fundo, sentindo-nos puros novamente, todo o esforço valeu a pena. A proibição só pode ser, porque é bom demais pra ser assim, liberado tão facilmente. é uma recompensa por merecimento.
Agradecemos à natureza com carinho, já planejando a próxima invasão concedida.

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